Memórias de Casanova, Parte II, Capítulo 3
Josuff: ―A masturbação é também
um pecado para vocês?
Casanova: ― Mais grave ainda que
a união ilegítima.
Josuff: ― Bem o sei, e é uma
cousa que sempre me surpreendeu. Todo legislador que faz uma lei cuja execução
é impossível, não passa de um tolo. Um homem de saúde que não tenha mulher,
deve absolutamente masturbar-se, quando a natureza lhe impuser a necessidade. E
aquele que se abstivesse por simples temor de macular sua alma contrairia uma enfermidade
mortal.
Casanova: ― Entre nós, porém,
crê-se o contrário. Vivemos na persuasão de que os rapazes que contraem tais
costumes estragam o temperamento e estragam a vida. Em muitos colégios a
vigilância é severa e faz-se tudo para impedi-los de cometer tal delito.
Josuff: ― Esses vigilantes são
estultos e ignaros, e mais ainda os que lhes pagam para exercer tais funções,
pois a proibição deve tornar mais vivo o desejo de infringir uma lei tão
tirânica quanto contrária à natureza.
Casanova: ― Parece-me,
entretanto, que o excesso de tais práticas deve prejudicar à saúde, pois de
fato enfraquece e enerva.
Josuff: ― Sim, porque todo excesso é nocivo.
Mas esse excesso, a menos que seja provocado, não pode existir. E provocam-no
justamente os que querem reprimi-lo! E dado que tal sistema de vigilância não é
adotado entre as meninas, não compreendo dotá-lo em prática junto aos rapazes.
Casanova: ― A cousa é bem simples: as meninas não correm os mesmos
perigos que eles. Nelas são menores as perdas, as quais além disso não provém
da mesma fonte que emana o germe da vida, nos homens.
Josuff: ― Não entendo muito disso, mas temos doutores que
afirmam provir a palidez das meninas do abuso de tal prazer.
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